segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Ser ou Não Ser?






Ser ou não ser? Eis a questão. Hamlet serviu de base para estudos freudianos. E entre muitas leituras, palestras de tempo de faculdade, discussão com amigos sempre fica a famosíssima pergunta: Ser ou não ser?

Para muita gente é impossível não ser. Mas como isso pode acontecer? Somos seres humanos. Estar no mundo simplesmente inviabiliza a possibilidade de não ser. Será mesmo?

O sentido de ser apresentado extrapola o estar no mundo, respirando, andando, falando. O sentido de apresentado é biologicamente falando. A pergunta é profundamente existencial ou existencialmente profunda. Isso seria um questionamento sobre existir e viver  com autenticidade, com integridade?

Sempre falamos de integridade como sinônimo de honestidade. Íntegro socialmente falando é aquele que não rouba, não mente, não manipula as pessoas. Sim, este sentido é correto. Porém, ser íntegro vai além de ser honesto e cumpridor das regras e leis. Ser íntegro é ser coerente consigo mesmo. Um sujeito íntegro é aquele que vive e se apresenta socialmente sem cortes, sem máscaras que escondam parcelas inconvenientes da personalidade. É aquele sujeito que não concorda só pra agradar. ´É quem defende seus pontos de vista e principalmente age de acordo com a sua forma de pensar e sentir.

Se penso que roubar é errado e eu roubo, não sou íntegro. Se amo alguém e caso com outro, não sou íntegro. Vivo com um, mas penso em outro, não sou íntegro. Defender pontos de vista e discordar das pessoas não significa ser grosseiro. Podemos discordas com classe, respeitando a opinião alheia. Quem necessita agredir alguém, prova que seus argumentos são fracos demais ou está se sentindo muito mal consigo mesmo.

Costumamos pensar que em cada local que estamos, precisamos vestir uma personalidade diferente. Com os amigos de longa data, sou a descolada brincalhona que conta piadas sujas e fala palavrão. Com os familiares, não bebo nem falo alto. Com o parceiro finjo um moralismo acima da média para transmitir confiabilidade. Com o carinha sexy da balada, sou uma mulher fatal. Papeis sociais? Até pode ser. Não podemos falar e fazer tudo o que queremos em todos os lugares. Só que, existe um limite para tudo. Tanto para bizarrices e extroversão como para protocolos sociais. Se em cada esfera da vida sou uma, estou vivendo uma série de personagens. A vida pede autenticidade e pessoas acabam se perdendo nelas mesmas. E com o passar do tempo já não se sabe dizer onde termina a encenação e onde começa o eu verdadeiro. Se é  que o eu verdadeiro existe.

Não somos a partir do momento em que seguimos cegamente um severo script social que não entendemos. Faço isso ou aquilo porque me convém. Penso desta forma porque a sociedade impôs que é o correto. Infelizmente a maioria de nós não é. Ser exige um trabalho homérico, cansativo e exigente ao estremo.

Ser exige que rasguemos as várias peles da alma até encontrarmos uma face horrenda e linda. Precisamos descobrir nossa vilania e nossa generosidade. O nosso medo mais profundo e nossa coragem mais hilária. Corajoso não é aquele que não teme. É aquele que enfrenta o medo. Também não há generosidade profunda e verdadeira sem um pouco de veneno, de rebeldia e transgressão. O que nos horroriza é o que nos encanta e que  nos repele, muitas vezes nos traz para junto de nós mesmos. SER OU NÃO SER? EIS A GRANDE QUESTÃO!