segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

me diste amor, pero de todos modos le tomó de mí.

Porque nas noites de insônia você ainda me dói. Me doem as lembranças das jantas divididas, da mão saindo do carro. Me dói a venda nos olhos e o cinto apertando meus pulsos...

Nas noites de insônia escuto Bethânia, Chico e Gal ardosamente. Leio qualquer um dos meus 5 livros escritos em espanhol pra lembrar de você sussurrando coisas sacanas no meu ouvido.

Nas noites mal dormidas lembro do cheiro que você deixava na cama, na toalha e no meu corpo...todas as manhãs antes de sair pra trabalhar. Eu ficava ali, saciando meu desejos mais insanos apenas com teu cheiro.

Nas noites que teu cheiro aparece misteriosamente na minha boca, fecho os olhos e me lembro de quando você tentou me ensinar a dançar tango. Nós dois nus na sala com chão de madeira, enrolados no teu lençol branco.

Dos dias ensolarados me doem teus olhos cheios de pintinhas cinzas, sorrindo pra mim e me desejando boa aula.

Mas eu te mandei embora, e não tenho direito de sentir dor. Te mandei sem piedade nenhuma de volta pro teu lugar. Pedi que fosse sem me avisar. E como de costume, você fez como mandei. Cheguei da aula da manhã e suas coisas não estavam mais lá, o cheiro do teu perfume ainda estava na minha cama, meu travesseiro, minha toalha.

Um bilhete rabiscado e uma rosa branca.  Meu sono, precisei ir, nao quis mais te sufocar com meu desejo por você. Por amor, te escuto e te acato mais uma vez....uma assinatura qualquer rabiscada.

E desde que você desceu do avião e correu para outros braços, as tuas lembranças me doem.

me diste amor, pero de todos modos le tomó de mí.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

das coisas que eu sinto

As pessoas ficam marcadas a ferro com o cancro e independentemente do desfecho, mudam para sempre. Mudanças pequenas quase imperceptíveis mas bem presentes. Eu mudei muito com a doença do meu pai. E sei que isso afastou algumas pessoas, que por vezes deveria voltar ao que era, mas não consigo.

Sinto-me mais intolerante, mais insensível. Não me compadeço facilmente com o mal dos outros. Chateiam-me pessoas que se queixam por dorezinhas. Não consigo animá-las. Não consigo fazer conversa de preocupada.

Mas também sou assim comigo própria. Não consigo lamentar-me como o fazia antes. 

E deixei de conseguir chorar. E tenho saudades de chorar copiosamente (pronto agora é que me chamam maluca). Chorar sempre serviu como um escape. A tensão acumulava e chegava a um ponto em que libertava tudo através das lágrimas e pronto ficava bem e seguia em frente. Era um processo natural. Agora não. 

Há quem diga que sou mais fria. Mas não consigo mudar esta maneira nova de ser. Preocupo-me realmente com as pessoas mas quando os problemas das pessoas me tocam mesmo.