segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cheiros de maresia.

Quando amo eu amo mesmo. Se estou triste não faço questão de fingir felicidade. Meus momentos quietos se resumem a ficar no meu quarto lendo, estudando, assistindo ou apenas olhando pela sacada. Se não gosto não faço questão de demonstrar simpatia, apenas dou de ombros. 

Aprendi com o tempo de que nada ajuda as falsas emoções sejam elas boas ou não. Temos que ser o que estamos sentindo. 


As roupas estão devidamente organizadas no roupeiro cheiroso. As camisetas e calças surradas quase não as uso mais, seria uma nova fase? Estou com 27 anos mas me sentindo com 21 mudando de cidade, pessoas, emprego e vida. Moro em um apartamento lindo na Morom, dizem que é bonito morar aqui, mas coisas internas nele estão me desgastando. Não consigo perder minha mania de ter as coisas arrumadas, limpinhas e cheirosas e isso não está funcionando, mesmo que eu saiba que a culpa não é minha. 

Tenho um banheiro só meu e eu o adoro, cheiroso e simetricamente arrumado. Têm farmácias e mercados por perto e um hospital. Não sei porque sempre me preocupei com morar perto de hospitais. 

Tenho saudade da minha casa. Aquela casa onde tem mãe, pai e roupas cheirosas. Onde as coisas estão sempre limpas e no seu devido lugar. Sinto falta da comida dela e do chimarrão. Me sinto fodona vivendo aqui no meu apartamento, mas ando me dando conta de que vivo em uma bolha.

Amanhã tenho meu trabalha que até que estou gostando sabe? minha faculdade. Me pergunto se resistirei ao próximos 3 meses. Eu sei que eu posso ir embora amanhã.

Que desculpas poderia dar agora para ir embora? A doença do meu pai, a falta de limpeza ou o fato de não conseguir viver na desorganização de vida?  Quem está doente aqui sou eu! Pensei que entraria em transe com o presente vindo do meu padrinho que tanto esperei. Ou com o show que está por vir no final de semana. Mas? Nada, nadinha! Ou será que vou em busca do meu sonho e morar a quadras da praia? Eu deveria estar feliz.  Mas ela vai esganiçar se eu for para mais longe! 

Sempre tive facilidade em encontrar empregos e lugares para morar. Certamente não será diferente em outra cidade. Acabei de tomar um banho agora adoro o cheirinho do sabonete e creme que fica na pele.

 Choro tomando banho. Começa com um choro pequeno, só algumas lágrimas tímidas. As lágrimas vão ficando gordas e gordas e gordas. Choro agora desesperadamente e dou pequenos murros no meu peito.

Que desculpa eu posso dar para ir embora hoje? Quero voltar pra minha casa. Vou comprar enfeites e revistas e coisas com cheiro bom e almofadas coloridas. Toda pessoa sofrendo compra almofadas coloridas.

Mas enquanto tudo isso fica no sonho, eu escrevo. 


Creio que quando mudar de emprego, de cidade e tiver minha casa limpa, cheirosa e em ordem eu serei adulta e feliz. Pretendo fazer tudo isso em menos de 3 meses.  

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


Tenho um sexto sentido assustador. Se eu digo que não confio em alguém, pode ter certeza que mais dia, menos dia, algo irá provar que tenho razão. Se me arrepia a espinha, num súbito, o perigo está eminente. Costumo prestar uma atenção superior a essas coisas, ainda que insistam por aí que eu desconfio demais…
Sei, porém, que conselho é algo que não se dá. Quanto mais se alerta alguém sobre algo, mais cega essa pessoa fica, como num processo inconsciente de provar com a própria razão, que a vida pode ter seus revezes.  Já previ casamento, morte, já previ separação, traição e gravidez repentina. É um dom que às vezes preferia não ter.
Conhecer pouco sobre os seres humanos faz as pessoas serem mais inocentes; é o que alimenta a roda da vida, mantém o mundo girando e faz com que todas aquelas coisas que nos fazem mal se convertam em aprendizado. Esse texto é só para registrar um aviso para todos aqueles que eu não consegui deixar caminhar livremente, aqueles dos quais me senti na obrigação de dizer algo desagradável sobre quem amam ou consideram: algumas coisas na vida, geralmente as mais importantes, são irreversíveis. Alguns danos só podem ser evitados, mas não, remediados. E que a culpa pelas coisas que acontecem conosco, todas elas, boas ou ruins, é quase que exclusivamente nossa.
Deus existe, claro. Ele controla tudo, é óbvio. Mas que temos uma tendência enorme a insistir no que nos faz mal, ou que sabemos de um jeito só nosso que não irá dar certo, isso temos. Sabemos que vai dar merda, mas rumamos para ela. Nossos instintos gritam, mas nossas ações se opõe ao lógico.
Se somos, no universo, os únicos seres racionais não tenho certeza. Mas que somos os mais burros, sem dúvida.
Durante o sexo ou no meio de uma briga, às vezes desejamos interromper o fluxo dos fenômenos. Enfiar a cabeça no chão, nos momentos ruins, ou congelar a cena para a eternidade, nos bons. Tentativas sempre frustradas por uma espécie de ansiedade, uma urgência de abocanhar o prazer ou de tentar resolver uma situação dolorida. Ironicamente, mesmo quando tudo o que queremos é apertar pause, colocamos ainda mais força no botão de play.



Em vez de “descer do trem” do sofrimento ou eternizar alguma felicidade, parar o mundo pode ser entendido com outras imagens. Acariciar um leão que deita no chão pela primeira vez. Pousar a dois centímetros das nuvens. Ficar dentro da água e, por alguns segundos, relaxar como se você nunca mais precisasse puxar ou soltar o ar. Em vez de tentar pausar, retardar ou acelerar, jogar fora o controle. Descobrir que a cobra assustadora era apenas uma mangueira. Não ser atingido pelas balas depois de enxergar sua verdadeira substância de nuvem, sonho.

O mundo para naturalmente quando nós paramos.

Claro, parar não é fácil. Além dos tiques corporais como roer a unha ou mover o pé freneticamente (que parecem estar naturalizados em nossa cultura), nossa mente tem mil vezes mais tiques e compulsões sutis. Se continuarmos tão distraídos, a arte de parar o mundo talvez seja esquecida






“Sempre que o diálogo interno pára, o mundo entra em colapso, e facetas extraordinárias de nossos seres emergem, como se tivessem sido mantidas numa guarda severa por nossas palavras. Você é o que é porque diz a si mesmo que é assim.” –Don Juan, em Portas para o Infinito, de Carlos Castaneda.



Perfume atrás da orelha, vestido bem vestido, um sorriso no rosto, um punhado de amigos que é pra se acaso eu te encontrar é pra você ver como eu ainda tô bonita.


Parei de serrar a serragem e distribuí os interesses. Meu profissional, minha família, meus amigos. Exatamente nessa ordem. E o que vier além disso, tudo bem, será bem recebido. Jamais procurado. Tracei metas e ninguém, absolutamente ninguém, vai me impedir de conquistá-las. É como se eu tivesse guardado os dores e problemas em uma caixa separada no meu cérebro, vai ficar lá, até quando eu achar necessário. Aprendi a dividir as coisas e guardá-las cada uma em sua devida




Me arrisquei muito neste tempo,
Procurar  sossego não foi fácil,
A gente vai muito longe para encontrar
Algo que já passou pelo nosso caminho.
Foi num sábado a tarde e meus cabelos
Ainda estão molhados, essa é a minha
Lembrança do dia que descobri a paz.
Estou lá. Estou esperando que me abrace,
Porque seu abraço medroso me fortalece.
Não dou garantias, não posso te prometer nada,
Mas estou livre nesse segundo em que segura minha mão
E não quero sair daqui, isso é o que sei.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Levantou da cama calçou os chinelos pegou o cigarro e caminhou lentamente para a porta da sacada, suspirou. Desceu o degrau, andou para frente e pára traz procurando um lugar que a acomoda-se, suspirou. Sentou-se na janela e apoiou os pés na guarda da sacada. Ficou brincando com o isqueiro por algum tempo e sentindo a brisa da madrugada bater no seu rosto, suspirou. Ascendeu o cigarro, fumava lentamente, pensativa.


Sentiu uma paz imensa tomar conta do corpo dela. Sentiu fisicamente, era como se o vento levasse todas as dores e pesos, como se fechassem as feridas, como se limpasse a maquilagem borrada . Como se o vento a ajudasse a guardar as coisas que lhe fazem mal.Deixou ir. Atendeu ao pedido e deixou ir.


 Cada tragada era um pensamento guardado, e assim foi, até chegar o filtro do cigarro. Abriu os olhos e se sentiu diferente. Sabe bem ela que passado não se resolve em uma noite de sacada, leva tempo. Mas, também, sabe ela que o tempo de guardar as dores é ela quem escolhe.


Desceu da janela e apoiou-se na sacada, suspirou, jogou o cigarro para baixo sem dó, sem pensar. E com ele despediu-se. ADEUS!



Entrou no quarto deixando os chinelos para o lado de fora. Escovou os dentes e lavou o rosto. Olhou-se no espelho e depois de muito tempo reconheceu-se, sorriu. Jogou-se na cama deu play no seu seriado e minutos depois adormeceu.


Seus sonhos, ninguém sabe. Apenas sabe-se que acordou sorrindo e agora passa a caminhar como se estivesse desfilando na Sapucaí em pleno carnaval.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

É como se houvesse apenas uma minuscula ferida que quanto menos se meche mais ela cicatriza e menos dói.
Guardei um bilhete, joguei fora a única carta e algumas roupas que me lembravam você. Foi como um ritual de despedida, já que a carta surtiu um efeito totalmente contrário e arrancou a ferida que cicatrizava, foi necessário refazer todo o processo novamente.
Era a minha despedida, o meu ADEUS, simples, sem respostas, sem procura, sem choros, sem declarações, sem pedidos. Era apenas um adeus. E a resposta veio como uma bomba com inúmeros tipos de explosivos, só depois que o fogo sessou pude ver que foi melhor, só assim soube o que estava acontecendo e quem eram as pessoas que recarregavam os dinamites.
Aprendo a cada dia selecionar o que me faz bem e o que já não importa. Filtrando o barro da água. E filtrarei, inúmeras vezes se for preciso até chegar a água translucida.
 Já não me importa com quem andas, nem pra onde vai. Já não me importa quem ocupa o lugar que um dia foi meu. Agora me esforço para atender seu pedido: Te esquecer! E depois que eu fizer isso nada mais tem volta.
Ela se viu como uma noite de réveillon, fogos de artifícios por todos os lados, apenas dele ter tocado com sua mão o cotovelo dela. Veio o frio na barriga que não sentia a muito tempo, começando lá de baixo e parando na boca. Riu, pois suas emoções sempre terminam na boca. 
Era de manhã cedo ainda não havia acordado direito de uma noite cheia de nadas, lutava para se manter de olhos abertos, desejava ter acordado mais cedo tomado banho e se vestido melhor, ou amo menos ter passado um lápis no olho para não parecer tão acabada. 
E ficava ali, inquieta e pensante, como poderia estar sentindo isso? Seria mais um de seus desejos loucos? Será apenas mais uma vontade de conquistar e depois fingir que não aconteceu? Nem ela sabe direito.
 Não procurou descobrir o que era aquele borbulhar no estomago, o que a deixou mais intrigada ainda, pois sempre saíra correndo para desvendar esses mistérios. Passou a noite e o dia seguinte calma e tranquila apenas aproveitando o arrepio e o frio da barriga que sentiu quando ele a tocou descuidadamente. 
Deixa acontecer, deixa ser natural - pensou ela. Sabia que tudo o que era forçado acontecer se desmanchava na manhã em que abria os olhos. 



Ficou apenas na lembrança o olhar verde que mudava de cor conforme o sol refletia!