quarta-feira, 15 de abril de 2015

O rosto que nunca existiu

Essa noite eu pensei em você, o cara que conheci em meio aquelas casinhas coloridas, passe meses sonhando com você. No meu sonho a gente caminhava de mão dadas, era frio, chuva fina e um guarda chuva preto que protegia nossos olhares, na minha cabeça tocava um blues. Você sempre comprava um café quente quando saíamos pra caminhar. Era uma espécie de ritual. Respirava fundo, sentia o ar gelado e você me abraçava bem forte, sorrindo e deixando seus olhos ainda mais pequenos.

Seu perfume forte, sua barba por fazer, até parecia um bom rapaz, seus cabelos bagunçados e sua bota surrada, você tinha toda uma poesia em volta dos seus 1,78m, seu sorriso tímido, o cigarro que você fumava, sempre ali, pra quando eu chegasse.

As vezes eu te procuro, você e as casinhas coloridas, já não tomo mais café, viro o olho quando escuto o barulho de uma moto, mas me perco quando vejo que não há sinal de você. O aeroporto estava vazio, as poucas pessoas que estavam lá não se pareciam com balões. 

Quando tomo uma cerveja me vem todas as ideias que trocávamos sobre os milhares de jeitos de se fazer uma cerveja digna de ser apreciada. Esses dias eu senti um cheiro, vindo de longe, adivinha? Era você chegando, eu ainda lembro. Era você com um café, era você com aquele isqueiro intocável pra ascender meu cigarro,  eu quanto eu tentava fugir do teu olhar. 

Caminhamos, pensei em voltar. Voltei com frio, decretei o fim. Não vou mais sentir teu cheiro, nem procurar alguém que ascenda meu cigarro. Eu vou deixar alguém gostar de mim. Você nunca vai deixar de ser sonho, você nunca foi, nem nunca será. Não temos uma foto, um bilhete, o medo é maior. 

Você nunca foi. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário