segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Da noite que a culpa foi embora!

Exatamente dois anos e dois meses atras, eu estava sem casa, sem comida, sem dinheiro e sem amor. Me vi perdida sem saber pra onde correr. Agradeço até hoje por ter amigos que me acolheram naquela madrugada fria. Me acolheram e sem pensar me deram casa, comida e amor. Me faziam sorrir todas as noites quando chegava da aula. Me davam força pra não desistir de nada. Foram meus psicólogos, amigos, irmãos. Por mais que hoje estejamos longe, meu coração é de vocês! 

Lembro perfeitamente o dia que pensei ter encontrado meu cantinho. Meu quarto era lindo, tinha um banheiro só meu, uma sacada com porta e janela branca, onde entrava uma brisa suave e o sol que passara iluminar meus dias. Mas só. Não tinha cozinha, sala ou aconchego nas outras dependências do apartamento. Uma das primeiras visitas que recebi foi de uma irmã adotada, uma amiga que se tornou parte da minha vida. Ainda ouço a voz dela dizendo: "Vanessa, agora é hora de viver sem culpa. De fazer e experimentar o que quiser, SEM CULPAS". E assim pensei que isso poderia realmente acontecer. Mera ilusão. Por mais que eu tentasse, a culpa, o medo do julgamento, o passado sempre vinha a tona. Meu quarto foi ficando escuro e frio. Decidi voltar para minhas origens e perder o medo, a sensação de culpa.

Reencontrei amigos e conheci novas pessoas. Todos me deram o aconchego de me reencontrar. De voltar a ser quem eu era. Me aventurei em novos ideais. A culpa continuava. Comecei um tratamento de terapia e psicanalise, a culpa continuava. Não eram erros, não era nada ilegal. Apenas não sabia porque sempre que fazia algo "diferente" acordava com sentimento de culpa e o peito pesava. 

Voltei pra cidade de onde a culpa veio, tentei buscar a cura. Encontrei uma paixão de sotaque engraçado que me fez sentir viva, fez meus olhos brilharem novamente. A culpa continuava. Suguei todas as verdades, os monstros e as coisas boas da cidade. Tomei toda a água da fonte. Não podendo mais matar minha sede com barro, voltei. Eu e meu sentimento de culpa.

Cidade velha, emprego novo, formatura, amizades, leveza e cuidado. Um novo ciclo, uma nova vida, uma nova pessoa e o mesmo sentimento de culpa. Fui vivendo um dia de cada vez, fui tentando fazer a coisa certa. Me sentia feliz, realizada. 

Desapeguei de tudo o que era relacionado ao amor. Tentei um lance mais sério que não deu em nada, faltou amor, verdade e cumplicidade. Costumo dizer que foi paixonite de criança. Bobeira de adolescente. A culpa aumentou um pouco.

Esqueci tudo e todos e fui tentar me reinventar e provar coisas novas.

Sexta feira pela manhã acordei sem culpa, sem o peito apertado. Acordei leve.
Quinta de madrugada foi a noite mais importante desse ciclo de vida. Não foram os beijos, a mão boba, o vidro embaçado ou o que fumamos. Não foi o olhar doce, a mão firme segurando meu cabelo ou os corpos suados. Fiquei esses dias pensando qual foi o fenômeno extraordinário que aconteceu naquela noite pra que meu sentimento de culpa fosse embora pela manhã. Talvez tenha sido as estrelas, o vento, a lua, a natureza. Não sei, não quero saber. A sensação de leveza, paz e harmonia que meu corpo e mente estão, não precisam mais de explicações. Apenas sentir.  

Talvez eu tenha apenas desligado meu passado por umas horas, esqueci de salvar, quando liguei, não tinha mais nada. Talvez eu apenas fechei os olhos e me entreguei. 
Não tenho e nunca terei palavras pra descrever como me sinto agora.


Me perguntaram: " Tu tá apaixonada?"

Não, eu não estou apaixonada, nem querendo amar ninguém. Eu tô livre, leve, solta. Aproveitando as delícias que o destino colocou no meu caminho. 

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