Foi estranho saber que você se foi.
Não foi triste, foi estranho. Não me senti perdendo nada, nem
ganhando. Nem saudade, nem dor. Apenas uma sensação estranha.
Aquele saber que não vou mais te ver na rua, nem quando passo na
frente do teu trabalho. Sei que não vou mais fugir e me esconder nas
madrugadas.
Aprendi mais do que imaginei nesse mês.
O respeito com as pessoas. Como não julgar é importante. Que
devemos levar a vida com mais leveza, sem mágoas, sem rancor. Que o
passado, que todo mundo tem, condena sim. Que ninguém pode fazer o
que bem entende e sair impune. Que fazer “jogo-do-contente” não
é a melhor maneira de enfrentar e compreender o real. Todo mundo é
médico e monstro. A vida também. Você deve sempre tentar ser o
médico, mas enfrentar o monstro. Se não, meu bem, ele te devora.
Foi um mês de autoconhecimento, e por
extensão inevitável o conhecimento do outro e do mundo do outro, e
não foi exatamente um mar de rosas. O combinado, nunca foi cobrado,
mas foi cutucado por ambos os lados. Como você disse: “a gente não
mora em uma floresta pra viver escondidos no meio do mato”. Nunca
tive medo de nada que pudesse ampliar minha consciência. Nem de
você. E não foi o proibido que me chamou a atenção. Foi você
(animal carnal e brutal) me tratar como mulher “merece” ser
tratada. E acho que esse é o único jeito digno de ser. Por isso
mesmo, vou dormir em paz.
Metade luz, metade treva. E esse fio de
navalha entre os dois, corda bamba afiada onde você, sombrinha
aberta na mão, pé ante pé se equilibra. Ou tenta. Sem rede de
segurança, mas com um sorriso nos lábios e um grande, enorme e
sonoro “fica bem, você já é grandinha”. Quando os homens
alegram uns aos outros através de seus sentimentos, isso se
manifesta pela boca. Você me fez compreender que nem toda felicidade
deve ser demonstrada, que devemos guardar as manifestações de
felicidades para os momentos especiais. Assim, não vira
rotina-popular.
Na praça movimentada de domingo, teus
olhos encontraram outro dia os meus e ficaram cheios de vontades. Por
um segundo, os meu- teus-nossos olhos de ver bonito quase correram ao
encontro, mas as palavras e passos ficaram engasgados, teríamos que
ficar nas palavras de sociedade como sim, sempre, obrigado, que bom,
eu também. O acordo de se ver invisível continuou.
Boca na boca, corpo no corpo. A
despedida em sussurros. O prêmio de bom comportamento veio da melhor
forma possível, sem ser pedido, sem pressão. A calma, a agitação.
Tudo de uma maneira certa. Ou como a gente acha que deveria ser. Não
vou seguir seus passos. Tracei uma meta e vou segui-la. Apenas vou
incluir seus conselhos nela e te levar comigo. Vou levar como um caso
de outono.
E o que fica disso tudo é a calmaria.
O beijo doce. O perfume marcante. O olhar bravo e sério. O sorriso
tímido. O sotaque enrolado. Ficam as lembranças dos meus pés
brincando com o cadarço da tua bota, as teorias de vida no banco de
trás do carro, os sequestros, o carinho, a única noite de prazer.
Fica o pensar nesses dois olhos
abstratos e invisíveis que temos, além dos dois reais-palpáveis. E
que são assim: um olho de ver-feio, outro de ver-bonito. E eu vou
acabar indo a praia só pra dançar. Vem comigo, o ano tá quase no
fim e eu quero é mais.
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