quarta-feira, 6 de maio de 2015

O último texto pra você






Eu tentei, juro que tentei, com todas as minhas forças gostar mais de você. No inicio foi uma explosão inexplicável, você era interessante, charmoso e lindo. O tempo levou o charme, desfez o lindo e mostrou a futilidade. Eu tentei, tentei fazer você ter palavras em mim, você não quis.

Eu não estou a fim de brincar com elástico, um sempre solta antes e o outro se machuca. Você largou o elástico a tanto tempo, que eu nem percebi, vai ver ele era tão fraquinho que nem doeu. Mas eu não posso continuar escrevendo em papel invisível.

Eu fui e voltei tantas vezes que a estrada se apagou, as solas se gastaram e já não posso mais usar a mesma roupa. Sou mulher, não posso embarcar na viagem com a mala vazia, não tem mais nada lá dentro. Os lápis quebraram a ponta e eu não quero ser o apontador. O livro é de rasuras.

Não é teu nome, sobrenome, nem tua idade. Você apenas não é a ideologia que me faz lutar, nem está na arte que me faz transfigurar. Preciso me sentir criança, limitada perante a sua fala, porém feliz e estasiada enquanto contemplo e penso.

O entusiasmo ficou no meio do caminho, se perdeu no dia que eu vi que você vive de impressionismo e eu sou realismo, estamos muito distantes um do outro em vida. E você não soube suportar a arte que escolheu, os beijos, os abraços e os carinho nunca foram impressionistas, mesmo assim eu quis chafurdar na tua arte, encontrei o vazio.

Fomos instantes, nunca fomos reais. Dois delirantes ficando irreais. Deixamos de perpetuar a sinestesia. Não comporto metades, nem vivo de fragmentos, muito menos de indecisões e medos absurdos. Você sempre fez das despedidas uma formalidade de agradecimentos, nunca residiu em um instante. Quando se reconhece isso, o universo ganha ares expansivos. Foi então que vi ao teu redor, ele.

Perdi o gosto pelas palavras travestidas de beleza. Quisera eu lançar figuras no ar e tatear com destreza símbolos e significados enebriantes, atemporais e, principalmente, transparentes para um todo. Mas fomos instantes. E instantes, mesmo que presenciados, ainda não me bastam. Os instantes existidos foram bons, alguns ótimos, outros decadentes.

Faltou o beijo que emociona, faltou as mão quentes. Minha pele quente não derreteu teu gelo, teu gelo não apagou o fogo que a minha pele tem. Então, meu bem, é em vão eu continuar .

Escrever é um exercício com o ouvido de dentro e todo o sentimento está acima de quantificações porque tratam dos dispostos ao impossível de formas possíveis. Sou um instante infinito, você é apenas um instante,

Você ria quando eu dizia: "fique tranquilo enquanto eu te incomodar, se preocupe quando eu parar" Você dizia que eu não incomodava. Pois então, não incomodarei mais.

O encanto que nunca existiu acabou quando eu comecei a reparar em outro cabelo.

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