terça-feira, 4 de novembro de 2014

e foi assim que você me beijou

Você pediu um cigarro, mentiu o nome e a idade, confessou o curso que fazia e a cidade. Olhar bêbado e sorriso nenhum. Dei o final do último cigarro e a certeza de que era uma pessoa qualquer, quando dei as costas para ir embora olhei de relance e gostei do seu jeito de fumar. Meu pensamento estava longe, distante, vagava entre conversas e braços tatuados, o seu o meu, o nosso. Não teria cabeça nenhuma, pra conversa nenhuma, sem flerte de meias palavras.
E se não de repente, mas pouco a pouco, o destino coloca você novamente no meu caminho, como aviso, como castigo. A distração permanecia comigo, conversas, tatuagens, distância. Só te (re)conheci pela voz: "- tens um cigarro?" Era você, você e o destino plantados na minha frente. Você olhou, eu olhei, apoiou seu braço sobre meus ombros e eu fique imóvel, uma espia gelada percorreu a ponta do meu pé até o meu cabelo. Sem reciprocidade, sem mais olhares. Sem mais conversa, apenas e somente um silêncio ensurdecedor. Como já disse, meus pensamentos estavam distante, entre uma noite de adeus e um "eu vou voltar", dito na mesma noite em que as tatuagens partiram.
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Confesso que gostei da tua jaqueta de couro, seu jeito sério e como segurava a garrafa de cerveja, as mãos firmes e os dedos longos. Gostei do jeito que você conversava. Mas eu estava séria, sem meu sorriso torto e o piscar de olhos. Eu fiquei esperando acontecer, pela primeira vez, quis esperar. Deixei o agir para o meu passado, não quis decisões precipitadas. E enquanto milhares de histórias, sentimentos e atitudes ficavam no passado, perdi meu presente. E fique olhando você se desfrutar lábios e cabelos no meu presente. Foi indiferente. Como passar em uma vitrine gostar de uma roupa, mas não ter a certeza de uma vontade de comprar. Foi exatamente isso.

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Conversas, séries e histórias. Convites, recusas, deixa pra lá, pedidos de esquecer e um sério: "a gente precisa conversar pessoalmente, certo?". Um 88 bordo brilhando, quatro portas, você e o pensamento de que o carro era mais novo do que eu. Quando coloquei a mão na maçaneta, bati a porta e baixei o vidro, percebi que chega o dia, então, em que não a outro caminho. Chega o dia em que o não caminho é o próprio caminho. Não procurar é encontrar? Falando francamente, não creio que cigarros, jaquetas de couro e carros antigos resolveriam o meu problema.

Subidas, descidas, curvas, lugares, pessoas....árvores, calmaria, silêncio, vento. "- Me explica porque a gente deveria conversar pessoalmente?..." Um suspiro e algumas poucas palavras foram ditas, muitos olhares. Insistência. Não's. Promessas de uma diferença. Assim, amanhã, ou outro dia quem sabe...E tive certeza, devo mesmo estar enlouquecendo. Nesses extremos, perde-se o centro, perde-se a quina da cara e coroa, perde-se o ponto exato. E a voz rouca e um pouco falhada me diz"- E tu acha que já não é tarde pra isso?"


Pouco a pouco, sutilmente, ele foi me puxando pelo cinto, encostou meu corpo no dele, segurou meu cabelo. Mas tudo bem, porque os momentos da vida são feitos de perdas e ganhos. Chega, vem, vai: esse é o ritmo do corpo e da vida. Uns vão e não voltam , outros cruzam a esquina da nossa vida. É assim que as coisas devem ser: sem pressa, sem dor, sem ressentimento. Foi assim que você me beijou pela primeira vez.  


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