segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O dia que o céu encontrou o mar

Faltam dois meses para o meu casamento. Dois meses pra realizar o que, quase, toda mulher sonha. A igreja simples do interior já está reservada, os lírios, o tapete vermelho, o lencinhos para as pessoas secarem a alegria na hora dos votos. Os votos, que já estão prontos, escrito em um papel de seda. As comidas que eu escolhi com toda delicadeza. Meu vestido sendo bordado as ultimas pedras. O terno dele já está quase pronto, no alfaiate do lado de casa. Ansiedade, essa está um turbilhão.

Começo a ficar impaciente em casa, as horas e os dias parecem não passar, e meu noivo está cada dia mais nervoso e emburrado. Começo a sair com minhas amigas, pra me distrair, tentar esquecer um pouco de tudo o que venho preparando e ansiando. A gente sempre vai pra um barzinho, desses botecos, onde se tem cerveja, caipira e pessoas felizes. Rimos, brincamos, nos divertimos, o que só me deixa triste é que meu futuro marido não querer participar dessa minha distração. Sem noias, sem preocupação.

Tem uma mesa de meninas, sempre sorridentes, sentadas na nossa frente. Elas sempre estão lá, e como em um ritual, quando chegam, cada uma tem seu lugar marcado. Hoje eu sentei em lugar diferente, e uma das meninas da outra mesa, passou a noite sorrindo pra mim. Ela tem um sorriso lindo, cheio de luz, e os olhos azuis da cor do céu.

Passam algumas semanas, tá quase tudo pronto. Lá vamos nós, mesmo bar, mesma caipira, mesmas pessoas, mesma menina dos olhos de céu me encarando.  Na saída do bar recebo um guardanapo com alguns rabiscos, quando entro no carro abro e leio: Teus olhos são da cor do mar. E teu sorriso é uma onda. Deixa eu te conhecer? Fiquei sem chão. Nunca eu tinha recebido um bilhete, um rabisco qualquer. Fiz um sinal e dei carona pra ela. Fomos conversando, contei do meu casamento, e ela sorria. Era uma conversa boa, uma pessoa doce, suave, sentia vontade de não sair de perto dela. Quando cheguei na frente da sua casa, um beijo ela me roubou. Pulou do carro sem dizer nada e foi, olhando pra trás e sorrido.

Passamos a sair, tomar sorvete, ir ao cinema, ver o circo que chegou na cidade, andar de pedalinho no parque. Era uma sensação nova, era algo que eu já não sabia, só sabia que queria ela por perto. Meu noivo estranhava toda a minha felicidade, só não estranhava minha nova amizade.

Chegou o tão sonhado dia, o dia do casamento. Meu cabelo estava pronto, minha maquilagem, os brincos, a liga azul. Quando estava vestindo o vestido, vejo pelo reflexo do espelho os olhos da cor do céu, vem se aproximando lentamente, sussurra no meu ouvido: Deixa o céu encontrar o mar e foge comigo? Meus olhos encheram de lágrimas e continuei a me vestir. Ela se foi, e eu fui em direção a igreja.

No ultimo minuto decidi entrar sozinha, pedi pro meu avô me deixar seguir o meu futuro do meu jeito. Ouvi a música que ele escolheu pra me ver caminhando em sua direção, a porta da igreja abriu. As flores, o tapete, os convidados, tudo como sempre sonhei. Passo por passo, lentamente eu fui entrando. Olhava as pessoas e todas sorriam, algumas com lágrimas nos olhos.

Parei, no meio da igreja e olhei pro meu noivo, não era o sorriso doce e nem os olhos da cor do céu. Num piscar rápido e sem muito o que pensar virei lentamente a minha cabeça para trás, na porta estava ela, em um vestido rodado preto, com o cabelo arrumado, o sorriso de luz e os olhos do céu, ela piscou pra mim com um convite de vem.

Não pensei, dei ás costas ao altar e fui com passo mais rápido em direção à ela. Não olhei para os lados, apenas fui, correndo me joguei nos braços dela: - Céu, leva o mar com você?


Hoje já se passaram seis meses da história da noiva do interior de Minas que fugiu do casamento. Hoje fazem seis meses que o céu encontrou o mar. Hoje fazem seis meses que eu encontrei a felicidade completa.

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